Você já pensou em descobrir as histórias de mulheres pioneiras da sua comunidade? A primeira coronel do corpo de bombeiros, da polícia militar, a primeira juíza e desembargadora? Bom, a professora de história Rutemara e seus alunos do terceiro ano do Ensino Médio pensaram e criaram o “Histórias das Mulheres em Roraima”, para valorizar o papel da mulher na sociedade e no estado nortista.

O projeto surgiu em 2018 e foi finalizado em 2019 com mais de 50 mulheres roraimenses pioneiras e de destaque em diversas áreas, desde a segurança pública até a saúde. Como é docente do Ensino Superior, a professora Rutemara trouxe um pouco da sua experiência de metodologia de pesquisa para que os alunos pudessem construir o material. A motivação veio quando a educadora não encontrou nenhum material na internet ou em bibliotecas sobre os nomes de mulheres importantes do seu estado. “Pensei ‘Nossa! Precisamos construir um material que sirva também para outros professores e alunos’. Então, levei essa proposta para os alunos do ensino médio, do terceiro ano, e eles gostaram muito”. 

Além do levantamento de nomes e a realização das entrevistas, o grupo procurou entender como a mulher é tratada ao longo da história, qual era seu papel em diversas épocas históricas, tudo isso para compreender como escrever sobre o gênero. “Lançamos o projeto em um evento no dia 8 de março de 2019, com as entrevistas e temos quatro sites e quatro mini documentários com esses relatos”. 
Tratar sobre gênero e poder ver de perto a luta diária que as mulheres, por meio do projeto, mudou a visão dos alunos e das alunas sobre o assunto. “As meninas conseguiram a maior força, inclusive para elas mesmas de lutarem por uma profissão, por um um uma educação de qualidade na universidade. Os meninos passaram a entender como é construída a vida da mulher, as trajetórias, a identidade que ela possui. O projeto atingiu assim mais do que foi o objetivo.” E a professora ainda reforça: “Esse trabalho mostrou isso,  através das mulheres do estado de Roraima, a força que nós temos pra lutar”.

Descendo um pouco mais o mapa do Brasil, também temos mais um projeto que valoriza a mulher e o gênero, é o caso do Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI), da professora Gina Vieira, de Brasília (DF), coordenadora do Núcleo da capital brasileira. A ideia de criá-lo surgiu após um episódio de depressão vivido pela professora e que causou o clique para a resignificação da sua prática pedagógica. 

Assim, ela começou a ficar mais atenta aos interesses dos alunos e com as redes sociais ela conheceu quais referenciais femininos que eram colocados em destaque. "O que é apresentado como modelo para elas se inspirarem são, frequentemente, mulheres hiper sexualizadas, objetificadas, que são validadas pelo quanto se aproximam ou se distanciam de um determinado padrão estético e de uma determinada performance, definidos pelos homens", diz a educadora. Por isso, o PMI trabalha para que as meninas conheçam biografias de grandes mulheres (escritoras, médicas, ativistas, professoras, advogadas, esportistas) para que elas conheçam outras possibilidades identitárias para si mesmas.Entre as ações realizadas pelo projeto, a principal é  o letramento literário, crítico e racial e o investimento da educação em e para os direitos humanos, para promoção da equidade de gênero e étnico-racial. Criado em 2014, Gina acredita que a transformação vem por meio da educação, mais especificamente da literatura, que é o carro-chefe do projeto e uma arma muito importante. 

No letramento, os estudantes estudam a biografia de mulheres em diferentes contextos sociais e históricos, mulheres inspiradoras que atuam no nosso território e a entrevista a mulheres inspiradoras da vida dos estudantes. "A etapa em que meninos e meninas entrevistam uma mulher inspiradora de suas vidas foi a mais impactante, porque todos voltavam da entrevista muito orgulhosos e dizendo que as mães, avós, eram mais inspiradoras do que imaginavam", relembra Gina.

Mas não só os alunos foram impactados pelo Mulheres Inspiradoras: Gina diz que existe uma mulher antes e depois do projeto. "Hoje, eu sou uma mulher muito mais consciente das forças que operam para nos tirar dos espaços de prestígio e muito mais confiante em relação ao meu poder de mudar o mundo. Passei a ficar muito mais atenta aos meus próprios atos, para não reproduzir sexismo".
Desde 2014, o PMI esbanja reconhecimento. Foram mais de 15 prêmios diferentes, dentre eles, o I Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos. Hoje o projeto compõe as políticas públicas educacionais da rede de ensino do DF e está presente em mais de 50 escolas.

Mulheres e professoras como Gina e Rutemara não são exceções. Há projetos espalhados pelo Brasil inteiro e Conectando Saberes está sempre acompanhando essas iniciativas.